No último dia 31, completou 10 anos de idade o maior símbolo da ficção científica do meu tempo. Nosso tempo, prezados amigos.
Matrix, a mistura perfeita de conteúdo e efeitos. Filosofia, ação, modernidade, tecnologia, artes marciais e futuro, tudo junto.
Não é de hoje que a mente criativa daqueles que praticam a ficção científica, consegue influenciar a aura dos cientistas “de verdade” e, juntos, romper paradigmas e dar um passo para frente na evolução. Não raro, o passo é para trás, mas enfim, conhecimento é conhecimento.
Dizem que o sistema modular das naves utilizadas para viajar à Lua, foi inspirado num modelo imaginado por Julio Verme em um de seus romances. Vejamos a atual evolução dos telefones celulares com rede 3G e videochamada, teriam sido inspirados em Jornada nas Estrelas?
Seguindo esta linha de raciocínio, com Matrix na cabeça, e, acompanhando as novidades tecnológicas, poderíamos dizer que o futuro que se abre é no mínimo preocupante.
Pois bem, voltando ao filme, é realmente um marco. Outras gerações tiveram seus clássicos da ficção científica como 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Metrópole e (mais recentemente) Blade Runner. O nosso, é Matrix.
Qual outro blockbuster(*), cheio de tiro, pancadaria e trilha sonora da pesada(**) é estudado e discutido nas universidades(***) e de quebra revolucionou as cenas de ação criando técnicas inéditas de filmagem que são imitadas até hoje? Matrix!
O filme é foda! Podemos nos orgulhar de estarmos vivos em 1999 e, como eu, ter assistido ao lançamento no cinema. Já vejo nossos filhos fazendo dever de casa e vindo aflitos pedir ajuda sobre a intrínseca filosofia dos sentidos, do mundo real e da realidade virtual apresentada na trama.
Mas no meu ponto de vista, a festa pára no primeiro filme. O único realmente relevante. Não digo que não deveriam ter feito as sequências, mas aquela dose de brilhantismo, ficou por ali. Os Matrix Reloaded e Revolutions, se esforçaram em criar efeitos ainda mais espetaculares e deixaram a idéia central meio de lado.
De fato algumas coisas são explicadas, como o sombrio mundo real, as sentinelas, a localização da cidade e etc. Mas por outro lado, para manter o nível de interesse das pessoas acerca de mistérios, ao invés de destrincharem os enigmas que já haviam sido expostos, resolveram inventar outros milhares que, de tão complexos (e forçados) tiraram o brilho da coisa.
Aquela conversa mole do Oráculo, o Merovingian, o Chaveiro, o Maquinista e o Arquiteto serviram mais para confundir do que para explicar alguma coisa. Além disso, cederam à tentação de (alegando uma trama muuito complexa) dividir o total do enredo em outras fontes. Ou seja, para uma compreensão TOTAL do Universo Matrix, não bastava assistir aos 3 filmes. Você teria que assití-los, assistir à série de desenhos Animatrix, jogar o jogo (de computador, Playstation), fazer uma reza braba, usar um ácido e tentar enxergar a dimensão real e extraordinária que é a abertura de uma mente sem fronteiras.
Não tem problema. De todo jeito é uma bela trilogia e o importante foram as questões levantadas pelo primeiro filme. Podem as máquinas assumir o controle? O que é a realidade, o mundo perante nossos sentidos? Na verdade são questões tão antigas quanto o intelecto humano mas a roupagem pop e a feliz mistura de tendências e padrões indo da vanguarda ao clássico, trazendo todas as audiências para a discussão, foram fatores vitais para o sucesso do filme e para torná-lo o marco da ficção científica do nosso tempo.
(*) Sucesso de bilheteria, febre do momento.
(**) A trilha inclui faixas de Marylin Manson, Rammstein, Rob Zombie, Prodigy além da excelente Wake Up do Rage Against the Machine, inclusive, no final do filme quando Neo bate o telefone e sai voando igual um doido pelo céu afora ao som do Rage Against, foi a cena mais arrepiante do cinema que me lembro.
(***) A idéia central de Matrix, o aprisionamento dos sentidos criando uma nova e falsa realidade, é amplamente comparada à idéia do Mito da Caverna de Platão.