Feriado, 21 de abril, terça-feira. Dia de folga. Dia de reflexão. Quem foi, o que queria e porque morreu Tiradentes? Dia de acompanhar ao vivo pela TV (com comentários mais do que especialíssimos na Rede Minas) a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência.
Dia de ressaca. Dia de dormir. Dia de ver televisão. Dia de… novela? Sim! Fui gentilmente convidado a assistir um capítulo de Senhora do Destino que está em reprise no Vale a Pena Ver De Novo.
No início refutei a idéia: odeio novela! – gritei. Mas não era uma novela qualquer, era Senhora do Destino. De birra permaneci no quarto com fones de ouvido apenas passeando, vez por outra, os olhos pela TV. Aos poucos, não teve jeito, fui fisgado pelas armações e aventuras do folhetim que foi um dos maiores sucessos de todos os tempos da Globo.
Pouco antes da novela estrear na sua primeira exibição, comecei a me relacionar com minha atual companheira que se revelou uma fervorosa amante deste tipo de show. Tentei alertá-la, dissuadí-la, contaminá-la mas nada diminuiu seu prazer de acompanhar uma novelinha. Foi então que, num golpe irônico do destino, acabei eu tomando gosto pela coisa. 🙂
Revivi meus tempos de menino e redescobri a alegria de acompanhar, com afinco, uma novela(*). Mas isso era apenas a rota final de uma história (seria Celebridade? não lembro…). Assim, quando acabou, resolvi: -a próxima novela vou assistir de cabo a rabo! Para minha sorte, a próxima, era justamente, Senhora do Destino.
Uma novela inteligente, bem bolada e cheia de cartas na manga. A história tinha reviravoltas incríveis e audaciosos. Nada de jogadas de genialidade duvidosa (como Flora boazinha ficar ruim do dia para noite). Não! Os mistérios iam sendo revelados na mesma velocidade que a trama se complicava.
Não tinha disso de arrastar uma situação até os momentos finais, pelo contrário, cada capítulo reservava uma emoção que nos prendia ainda mais. Por vezes eu ficava temeroso: agora que Do Carmo encontrou Nazaré, o sequestro foi revelado e Izabel já sabe que não é filha de quem achava, o que vão fazer para segurar a audiência e a curiosidade do público? Pronto, até o último momento, lá vinham eles com desdobramentos felizes e mais novidades instigantes.
O último capítulo foi o mais emocionante de todos e no final me trouxe sincera tristeza por simplesmente perder uma companhia tão agradável durante tanto tempo, a novela das 8.
Cumprido seu papel, a novela, esta teria então que passar as rédeas para o próximo folhetim da vez. Aquele que iria agora acompanhar os brasileiros, ditar modas, comportamento, levantar polêmicas, gerar publicidade e a dose certa de alienação para confortar uma população. Assim veio a grande: AMÉRICA.
Uma novela idiota do início ao fim, com Murilo Benício fazendo sotaque caipira com dor de barriga. A novela foi tão mal no início (aquém das expectativas) que tiveram que mudar radicalmente a trama, atuações e até a abertura! Saiu assim Milton Nascimento e entrou Ivete Sangalo.
PUM! Acordei do estado hipnótico que estava e voltei à normalidade. Odeio novela! Mas neste 21 de abril, pelo menos por alguns momentos, voltei no tempo e às graças da Senhora do Destino.
(*) Na verdade, de tempos em tempos tiro uma novela de Cristo para acompanhar e a última até então tinha sido Suave Veneno. Também muito boa, com direito a assistir o último capítulo num buteco em companhia dos saudosos companheiros da ELT-B.