Quase 7 meses se passaram da primeira apresentação solo de Marcelo Camelo em Belo Horizonte. Nesse meio tempo foi possível digerir melhor o disco ‘Sou‘ e retirar o resto de ansiedade e expectativas ‘hermânicas’ que poderiam se manifestar com relação ao show. Na verdade, nesse meio tempo eu tive até o privilégio de assistir um show do Los Hermanos. Talvez estivesse ali exorcizando os últimos demônios, ou, quem sabe, fechando a tampa do caixão.
O show do Los Hermanos foi estranho. As músicas eram ótimas, a banda perfeita, a platéia, o ambiente mas faltou alguma coisa. Talvez o Radiohead tenha sugado todo o clima. Talvez era só o momento errado. Eu sei é que eu não saí de lá ávido por novidades neste sentido e sim com o pensamento de ‘dê mais tempo ao tempo‘. Talvez um show hoje só de Los Hermanos fosse diferente, mas mesmo assim não passa pela cabeça de ninguém pensar no fim definitivo da banda. Já o Camelo, em recente entrevista ao portal UAI do Estado de Minas, quando perguntado se os fãs poderão ver o Los tocando novamente, foi preocupante: “Não temos estes planos.”.
E assim, olhando para o futuro, chegamos ao Music Hall para um show mais intimista do poeta. Eu achei que a liberdade da pista, em oposição à vigilância dos assentos marcados do Palácio das Artes, proporcionaria um show mais memorável. Mas a verdade é que liberdade demais é um perigo. Você dança, canta, levanta os braços, bate palmas, vai ao banheiro, encontra um conhecido, bate um papo, pega uma cerveja, volta ao banheiro, vai pra fila, compra ficha, fica perdido, volta pra turma e nesse meio tempo o show rolando… No Palácio das Artes, vez por outra acontecia um silêncio sepulcral onde o violão, a voz e acompanhamentos ganhavam destaque e, com este clima, fascinada pelo espetáculo, a platéia não perdia um único movimento sequer.
No Music Hall, mesmo tendo tocado o disco inteiro e algumas ‘extra‘ deu aquela sensação de show curto. Talvez justamente porque ninguém queria que acabasse mas o importante é que voltamos pra casa de coração e alma lavada mais uma vez.
O que mais chama a atenção (no Camelo e no Los Hermanos) é a participação da platéia que, como sempre, não se limita a refrões, cantaria tudo até de trás-para-frente se fosse solicitado.
Sozinho, Marcelo Camelo entrou no palco e abriu o show com Passeando. Em seguida, já com o Hurtmold posicionado, veio Téo e a Gaivota, Tudo Passa e daí pra frente só alegria. Dizem (não vi) que, durante a música Janta (parceria de Marcelo com Mallu Magalhães) ele se emocionou. Nessa altura a Providência que eu tinha tomado ‘mais logo’ já não me permitia discernir entre um Camelo choroso ou um Marcelo apaixonado, só sei que, quando rola Los Hermanos, aí é que tudo desaba mesmo, não tem jeito.
Poisé e Além do Que Se Vê, como se já não fossem extraordinárias, quando executadas ao violão ganham brillho novo e o povo transborda em catarse. Morena não tenho certeza se rolou ou se sonhei mas Santa Chuva também terá sempre o seu lugar. Um dia perfeito seria acompanhar um dueto entre Camelo e Maria Rita nesta canção.
De repente, sem aviso e sem graça o show acabou. Será que foi demasiadamente curto ou demasiadamente bom? Com certeza os dois.
Felizmente, para os ausentes e para os desmemoriados, existe o YouTube que não me deixa mentir.
Mais Tarde e Janta
Santa Chuva
Pois É
Menina Bordada
É morena…