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Música – Saudade Raimundos

novembro 8, 2008

raimundos1

Estava eu e um brother voltando para aula após comer um pastelzinho no Saraiva (em frente a PUC Minas) quando somos abordados por duas muchachas:

-Compra uma balinha apenas 1 real para ajudar a igreja Sara Nossa Terra?

-Sara Nossa Terra do Rodolfo? – Perguntei

-Isso! Rodolfo Abrantes do Rodox!

-Do Raimundos você quis dizer.

-Ele era do Raimundos aí saiu e fez o Rodox.

-Hmm, sei… Então tá bom, por ele, me dá uma bala.

-Muito obrigada, vão com Deus..

O Raimundos foi provavelmente a banda que eu mais curti na vida. Eu falo de curtição total. Passando por todas as etapas. Esperar o lançamento de um CD novo, comprar, ouvir, ir ao show e etc. Não que hoje as bandas não lancem CD ou não façam show mas talvez não existam tantos CDs ou bandas por aí que justifiquem o sacrifício. Pelo menos falando de rock.

Eu adoro inúmeras bandas mas ‘cerveja’ bem o problema:

Led Zeppelin – acabou em 80! Quando comecei a curtir já estava tudo pronto.

Black Sabbath – mesma coisa!

Sepultura – Quando comecei a ouvir em 95 já tinha passado a época de ouro e em 96 o Max saiu.

Rage Against – Primeiro CD é de 93 eu só ouvia Michael Jackson na época

Chico Science – também 93

Nirvana – Lembro da notícia da morte do Kurt em 94 mas só fui parar pra ouvir em 95 ou 96

Raimundos – em 95 lançaram Lavô Tá Novo, a MTV passava o clipe de Eu Quero Ver O Oco nas horas pares, e eu estava lá!

Viu a diferença? Eu não sei como era o mundo quando o Led Zeppelin apareceu no mercado cantando Good Times Bad Times ou quando o Sabbath lançou Paranoid, mas me lembro bem de assistindo um show do Raimundos na MTV (de novo) meu pai chegar na sala e dizer:

-“Que que ele tá falando? Não é assim que o que?”, E eu acanhadamente responder “não é assim que se fode não“.

Na época o Raimundos sofria uma pequena censura por falar de sexo escrachadamente e também por fazer referência (apologia?) às drogas. É claro que a censura saiu pela culatra e então os cabras da peste ganharam o país.

O Lavô Tá Novo foi o primeiro CD de rock que comprei, logo antes do Roots do Sepultura, e abriu caminho para uma longa história de felicidade e realização. Junto com o Lavô comprei o Calango do Skank, porque na época estava definindo uma personalidade e também fui cair na besteira de ouvir sugestão de discos bons de um primo. Coitado do Calango, ficou anos sem ser tocado esquecido numa gaveta esperando a fase metal passar. E passou, aí sim pode finalmente ser ouvido sem preconceito. Hoje até gosto, mas voltemos.

Além da alegria do primeiro CD, o Raimundos me proporcionou a emoção do primeiro show. Como esquecer? Skol Rock de 1996, Raimundos e Titãs. O Titãs entrava em declínio e o Raimundos no auge da loucura.

Eu fui em tantos shows do Raimundos que perdi a conta. Imagino que foram mais de 10. Foi esse do Skol Rock, outro no Ginásio do Minas Tênis (*), uns 3 no Pop Rock, lançamento do Lavô Tá Novo, lançamento Cesta Básica, MTV ao Vivo e por aí vai.

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Mas de repente tudo mudou. Os caras entraram numa espiral negativa e não conseguiram sair. Acho que tudo começou quando o Rodolfo cortou os dreads..

Em 1999 lançaram o ‘Só No Forevis‘. Na capa estavam vestidos de ‘pagodeiros‘. Apesar da brincadeira, parece que algo ruim se anunciava. Mulher de Fases e A mais pedida tinham uma forte pegada pop e caíram no gosto popular. Mulher de Fases tinha até duas versões! Uma normal (com guitarra) e outra chamada “a linda” onde a guitarra dava lugar a violões, tudo bem pop, bem light, bem enlatado e pronto para o sucesso. Não deu outra. A banda que no começo sofria censura agora tocava na Xuxa e no Criança Esperança. Parem o mundo! Da noite pro dia milhares de ‘novos fans’ foram agregados e imagino que o cofrinho deles (ou da gravadora) tenha ficado bem gordinho mas eu, velho chato ranzinza, não estava feliz.

Mas foi então que o mais inacreditável aconteceu, no auge do sucesso capitalista o vocalista, Rodolfo, anunciou sua saída da banda para… para… para… Virar crente!! Virar crente?? Não, calma lá. Deixa de preconceito. Pois bem, no fim não interessa muito. O que acontece é que ele largou a banda para frequentar a igreja Sara Nossa Terra. Se redimiu. Encontrou a luz e a salvação. Chegou até a montar uma outra banda, O Rodox, que tinha pegada hardcore e letras espirituais mas hoje nem sei o que se passa.

E o Raimundos? Continuaram na estrada. Digão, da guitarra, assumiu os vocais e chamaram outro guitarrista. Lançaram um disco (Kavookavala) que eu não tive coragem de ouvir até hoje. Lançaram também um CD ‘póstumo’ com um show que fizeram com Marky Ramone e Rodolfo, cantando só músicas do Ramones (vale a ouvida, se chama Éramos 4). O Canisso, baixista, foi tocar com Rodox depois voltou pro Raimundos. Fred, baterista, também saiu e montou a ótima SuperGalo (myspace.com/supergalo).

Enfim, aonde eu quero chegar com isso? Não sei, mas torço para que o ‘real‘ da balinha que comprei da menina possa ajudar na recuperação espiritual de Rodolfo e que ele possa um dia voltar a curtir a vida. Com a graça do Deus (…do rock.)